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2025
ANA RITA BRÁS
(Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra / CES)
Pesquisa Biográfica da Viuvez Feminina: potencialidades, desafios e responsabilidades

Em Portugal, a viuvez é um fenómeno feminizado e vivido sobretudo em idades mais avançadas. A ausência de conhecimento científico sobre a viuvez tem entregado o imaginário coletivo e o monopólio discursivo sobre essa experiência ao senso comum e à estereotipização dessas vivências. Histórias, provérbios, músicas e novelas permeiam o nosso dia-a-dia e compõem a ideia de que a viuvez feminina, principalmente nas camadas mais idosas, é apenas um período de fragilidade e privação. Esta investigação nasce da vontade de compreender o desencontro cavado entre essas ideias cristalizadas e a vida das mulheres viúvas com quem me fui cruzando ao longo do meu percurso pessoal e, mais tarde, científico. Não só para a mulher que perde o par conjugal, como também para a estrutura familiar, são várias as alterações desencadeadas pela morte do cônjuge – significativas em termos de estilos de vida, de práticas quotidianas e outras de ordem subjetiva, pessoal e singular – e os sentidos que essas alterações tomam não são lineares, são diversos, complexos e, por vezes, contraditórios. Não é uma experiência homogénea e as alterações que desencadeia não conduzem necessariamente a um declínio. É a lente biográfica que me possibilita compreender a viuvez como uma experiência com estas camadas. Articular diferentes temporalidades das trajetórias das mulheres entrevistadas permite entender a viuvez como uma experiência de vida que não está desligada de outras, com as quais se relaciona. Assim, torna possível explorar as continuidades e ruturas transportadas pelas mulheres viúvas para esta fase das suas vidas e, ainda, a transição entre diferentes fases na vivência desta experiência. Esta abordagem permite interpretar a história de vida como um todo, recusando uma visão da viuvez enquanto fenómeno isolado ou fixado na perda e no luto que gera a experiência, mas que não a determina necessariamente.
Proponho a compreensão desta experiência a partir da imersão nas biografias de 33 mulheres viúvas, que recolhi através de entrevistas em profundidade com carácter de histórias de vida. É a partir destas entrevistas que acedo a uma descrição detalhada das trajetórias pessoais e familiares das mulheres entrevistadas, que puderam organizar as suas narrativas e identificar, nos seus próprios termos, momentos e pessoas marcantes; continuidades e ruturas; assim como expressar opiniões, valores e sentimentos. O conhecimento que produzo advém da intersubjetividade da interação que se estabeleceu nas entrevistas realizadas. Esta abordagem trouxe potencialidades para ultrapassar alguns limites tradicionais na investigação sociológica, no entanto, esta é uma pesquisa composta por outras limitações e dilemas, nomeadamente de natureza ética e de carácter imprevisível. Desvendaram-se no fazer e no fazer se resolveram, mas nem sempre se solucionaram. Nesta sessão, proponho uma discussão epistemológica e metodológica em torno desses episódios particularmente ilustrativos de como as obrigações e as responsabilidades éticas desta pesquisa se desenrolaram sobretudo na imprevisibilidade da interação com as participantes e como a reflexividade científica informou as decisões e as posições tomadas nesses momentos que podem surgir onde, como e de quem menos esperamos.
12 Fevereiro 2025, 16:00-18:00, Iscte, B226 (Ed. 4); Zoom link: https://videoconf-colibri.zoom.us/j/97721942167